VIVENDO A LOGÍSTICA

O INICIO DA DÉCADA PERDIDA –  NÃO PARA NÓS

Em nosso passo-a-passo da história da logística no Brasil, chegamos ao ano de 1980. Ainda sem saber que ali se iniciava a chamada década perdida da economia mundial, comecei a reunir os primeiros profissionais do setor para discutir como otimizar os processos de movimentação e armazenagem de materiais. Até então, a que futuramente seria denominada Logística, limitavam-se a quatro paredes de uma fábrica ou de um depósito.

Muitas pessoas começaram a se integrar ao grupo de estudos que comecei a organizar em 1980 e em especial, sem menosprezar os demais, ressalto alguns nomes que mais a frente terão papel importante, conforme vocês lerão nas próximas edições, como Paulo Lima, na época gerente de distribuição do Pão de Açúcar, Ernesto Promenzio, então gerente comercial da Danone, e também responsável pela distribuição. Outros nomes do setor de movimentação de materiais como Lineu Penteado, ainda hoje um importante industrial do setor, no controle da Paletrans, e Maks Behar, empresário sonhador de sucesso, dono da SKAM fábrica brasileira de empilhadeiras. Em outra área de atuação, o Ernesto Pitchler, pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) com mestrado em embalagens.

Todos estes são personagens que despontaram há 24 anos, fazendo reflexões que hoje podem até parecer inócuas para os profissionais mais novos, como: “A logística é parte da distribuição física ou a distribuição física é parte da logística?”. Discutíamos os sistemas de movimentação de materiais, o desenvolvimento e a evolução de equipamentos para a armazenagem, que, naquele momento, ainda caminhava para a verticalização, com as primeiras estruturas porta-paletes, como a que implantei na GM poucos anos antes. Com aqueles encontros, começamos a dar as primeiras braçadas em direção à logística empresarial integrada, que veria a se concretizar em meados dos anos 80.

Não existe futuro sem passado, e a história é como uma escada infinita, em que cada dia do amanhã é um degrau que subiu ontem, e desta forma já em Janeiro de 1980 lançamos a primeira revista especializada em movimentação e armazenagem, cujo nome estampava justamente as iniciais M&A. Nesta primeira edição a manchete foi “Empilhadeiras: Uma opção na Movimentação e Armazenagem de Materiais” e trazendo ainda matérias como um panorama nacional do mercado de Empilhadeiras, bem como um ensaio sobre formas e funções de Almoxarifado.

Ainda neste ano de 1980, continuei como Superintendente da General Motors do Brasil, baseado em São José dos Campos e viajando todas as noites à São Paulo para concretizar os sonhos do recém criado IMAM, característica de jovens sonhadores e empreendedores que não encontram limites em busca de seus objetivos, e nesta oportunidade começamos a desenvolver as primeiras metodologias de consultoria que seriam ser aplicadas alguns anos depois. Da mesma forma, já começamos a reunir os fabricantes de equipamentos de movimentação e armazenagem e já planejávamos realizar uma feira do setor, marca mais a frente denominada MOVIMAT, produto que o IMAM continua realizando até hoje, sendo a mais importante do setor de movimentação e armazenagem.

A década seria perdida, mas o futuro da Logística estava lançado!


PONTO DE VISTA

RISCO DE APAGÃO ACORDA GOVERNO

Muito oportuno o tema central do IV Seminário Brasileiro do Transporte Rodoviário de Cargas, promovido pela NTC&Logística e outros órgãos do setor, na semana passada, em Brasília. “O Risco do Apagão Logístico” traduz bem a longa campanha aberta pela própria entidade, alertando as autoridades para o afunilamento das condições mínimas de infra-estrutura: precariedade das rodovias, baixa produtividade dos portos no comércio internacional e a tímida evolução do transporte ferroviário fora do Sudeste.

A tese defendida pela NTC&Logística e por vários políticos ligados ao setor encontra respaldo na atual visão estratégica do Ministério dos Transportes. O governo parece ter acordado para este tema e trabalha para evitar um colapso, já anunciado neste ano pelas dificuldades de escoamento da produção agrícola, conforme vimos no Porto de Paranaguá.

A VANTINE reforça a observação de que, nos últimos 20 anos, os recursos federais nem sequer contemplaram a recuperação das mais importantes rodovias do país, as artérias que irrigam a economia. Destacam-se neste abandono a chamada Rodovia do Mercosul, BR-101, cuja obra ainda está inacabada, a Fernão Dias, segundo maior eixo de tráfego do país, a BR-364, importante ligação com o Norte e todas aquelas que levam à região Nordeste, que corresponde a 15% do consumo brasileiro, mas ainda exige elevados custos operacionais para os transportadores. “Se o enfrentamento desta questão não se iniciar já, nem em médio prazo o Brasil terá condições de recuperar as posições perdidas, nos últimos seis anos, no ranking das maiores economias do mundo, quando despencamos do 8º lugar para o 15º, caminhando celeremente para o 16º”, diz o documento do encontro. Nós assinamos embaixo.

Outro tema abordado no evento da NTC&Logística e que merece grande reflexão, principalmente por parte dos embarcadores do sistema de transportes, é a intermodalidade, muito pouco explorada no Brasil. Principalmente na combinação entre os modais rodoviário e marítimo. A cabotagem não tem sido escolhida pelos usuários por conta da baixa operacionalidade dos portos, bem como uma estratégia pouco clara por parte dos armadores que operam a cabotagem.

Esperamos que com o novo perfil da NTC&Logística, que agora incorpora todos os modais de transporte e de operadores logísticos, se possa desenhar novas estratégias combinatórias que ofereçam soluções, que ao mesmo tempo reduzam custos e aumentem os lucros dos transportadores.

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