VIVENDO A LOGÍSTICA

Na edição anterior, estávamos navegando pelo ano de 1984, ano que foi criada a Comissão de Logística da ABRAS. Neste momento, o grande referencial em Logística (então recém saída da indústria e embarcando no caminhão, e denominada de “Distribuição”), era o Pão de Açúcar, ainda longe da crise familiar que iria eclodir no final daquela década.

Importante para o nosso leitor, ávido por saber dos fatos e dados verdadeiros, que essa empresa já tinha um DIRETOR DE DISTRIBUIÇÃO, meu particular amigo Paulo Lima, hoje ainda diretor dessa empresa, com muito sucesso na condução das lojas especiais da rede de Supermercados Pão de Açúcar.

Diferentemente do que muitos imaginam, Distribuição deve ser analisada sob duas prismas congruentes, mas de gestão independente:

Distribuição Comercial, de Conteúdo de Responsabilidade de Marketing, relacionando política comercial, desenvolvimento de produtos e canais de distribuição.

Distribuição Física, de conteúdo sob responsabilidade da Logística (atualmente), relacionando armazenagem e transportes, a interface entre a indústria e os pontos de vendas.

Há uma ligação umbilical entre as duas, mas até hoje, por maior que seja o parque tecnológico, por incrível que pareça, é o que apresenta o maior foco de ineficácia do processo de atendimento ao cliente (talvez isso mereça uma análise antropológica).

Voltando ao Pão de Açúcar, em 1984, o Paulo Lima e equipe, era responsável por administrar quase 200 mil metros quadrados de depósitos (alguns dos mais modernos até hoje, e que merecerão referência posterior), e uma frota de mais de 1000 veículos para abastecer uma rede de 600 lojas em 10 estados diferentes, e com 4 formatos diferentes de loja.

Dentro de sua equipe, encontrava-se o meu amigo Claudirceu, o primeiro analista de distribuição a criar o modelo “pré-roteirizador” em planilha, para otimização de rotas de abastecimento.

Esse mesmo Claudirceu, oriundo lá da extinta EletroRadiobrás (adquirida pelo Pão de Açúcar, e resultando no formato Jumbo-Eletro, e hoje Eletro), foi também o pioneiro a desenvolver projetos de movimentação e armazenagem de produtos para varejo.

Esse mesmo Claudirceu, meu amigo de longa data, é hoje conhecido pelo seu sobrenome “Marra”, fiel escudeiro e dedicado Diretor Técnico da , há 12 anos.
Lá na ABRAS, eu e o Paulo Lima iniciamos a Comissão de Logística, ali na antiga sede na rua Cristiano Viana. Nós dois e o Sérgio Dória! Nossa primeira questão:

“Além do Pão de Açúcar, do Bom Preço, também a Gessy Lever (hoje Unilever) e a Nestlé, estão mecanizando suas operações de armazenagem, mas cada um criando seu próprio modelo de unitização e de verticalização! ISSO SERÁ PROBLEMA NO FUTURO: COMO FAREMOS PARA INTEGRAR AS OPERAÇÕES?”

Um segunda questão que levantamos:

“Qual o modelo operacional de menor custo e menor índice de ruptura (ou Stock-Out nos pontos de vendas), mais eficaz? Entrega direto nas lojas, ou entregas via depósito?”

Vejam que esse segundo tema, ainda hoje é foco de análise em Congressos de Logística e de Supermercados, mas a primeira vez foi abordado por mim em Recife, neste ano, durante uma convenção anual da ABRAS.

Na verdade, esse tema não se extingue, é cíclico, e cada vez mais importante no mercado competitivo! Não é um tema conclusivo, principalmente nos dias de hoje, com tantos métodos gerenciais em discussão, como CRP, VMI, CMI, LEAN, etc. Mas, em 1984 lançamos o início dos debates e análises.

Quanto ao primeiro tema, resolvemos convidar a ABIA, e chega “no pedaço”, outro grande técnico colaborador, profissional da Nestlé, Amélio Fabbro, para a arena das discussões.

Mas isso fica para a próxima edição!


PONTO DE VISTA

A maior manchete da semana que passou, foi o artigo (ou matéria) do New York Times sobre o hábito tipicamente brasileiro do presidente (ou cidadão?) Lula, de tomar “uma e outras”. Quase virou um “embróglio” diplomático, tamanha a repercussão típica para as “repúblicas de bananas”. Sem julgar o mérito, o Lula tem lá seus direitos à brasileiríssima “cachaça”, hoje marca registrada de nossa pátria amada.

Se eu fosse do governo, aproveitava fazer um marketing global, que certamente agradaria à Associação Brasileira de Produtores de “cachaça fina”. Não vejo mal algum, do nosso presidente “tomar uma marvada”, pois atrás do cerimonial existe um autêntico brasileiro, que até é corintiano.

Por outro lado, a democracia americana protege a imprensa livre. Ou já nos esquecemos dos famosos charutos do ex-presidente Bill Clinton?

A Logística também mereceu grande destaque na imprensa maior! Há algumas semanas (02/03/04) o tradicional “The Wall Street Journal” publicou (via Estadão), um artigo do Sr. Robert Guy Matthews, intitulado: “Logística ganha valor (e empregos bem pagos) graças à globalização”, no qual prega que a Logística é a solução para a complexidade da incerteza crescente decorrente da demanda por novos produtos, dizendo que os consumidores globais querem cada vez mais variedades de produtos, e querem isso imediatamente!

Mr.Matthews, cita inclusive que “a tarefa se tornou tão complicada”, que o tradicional “MIT”, Instituto de Tecnologia de Massachusetts até expandiu seu programa de Logística, tendo introduzido o curso “Mestrado de Engenharia de Logística”.

Certamente, a maioria dos “simples mortais” não leu esse artigo, assim como não deve ter prestado atenção na notícia, publicada no mesmo “Estadão”, dia 12/05/04, “Os secretários de Desenvolvimento de seis Estados do Sudeste e Sul se reúnem em Porto Alegre para discutirem “Logística para exportação””! Sobretudo, o tema central são os gargalos em portos, ferrovias, rodovias e as possíveis soluções conjuntas, diante da perspectiva das PPP – Parcerias Público-Privadas. Aliás, ressalte-se que à macro desse problema, a NTC & Logística, através de seu competente presidente, denominou “APAGÃO LOGÍSTICO”.

Na verdade, todos os problemas de infra-estrutura e de gestão da Logística estão mapeados. São todos conhecidos! O que faltam são propostas concretas e objetivas, em lugar de “choramingo” de personalidades do governo e da iniciativa privada.

Curiosamente, na mesma data, e no mesmo jornal, porém, no caderno dedicado à agricultura, encontramos outra matéria, desta vez entitulada “Logística é entrave para aumento de exportação de Algodão”. O Brasil deve exportar 450 mil toneladas de algodão em 2004, e foi discutido no “1o Workshop sobre Logística para exportação de Algodão”, promovido pela Associação Nacional dos Exportadores do Algodão (ANEA), em São Paulo.

O evento reuniu empresas de todas os elos da cadeira de abastecimento, desde a lavoura até os armadores, e o presidente da entidade, Sr. Antônio Esteve, destacou como entraves:

A Alta dos fretes;
As greves dos operadores portuários e funcionários públicos;
A escassez de contêineres;
Os problemas domésticos de Armazenagem e Transportes.

Segundo informação da ANEA, em 2003, o Brasil exportou 175 mil toneladas, e atingirá 600 mil em 2005 (ou seja, no ano que vem).

O pior de tudo é que o representante da NYK, um dos maiores armadores globais, diz que o Mercosul representa cerca de 1% do mercado de fretes marítimos de longo curso.

Para concluir, quero registrar meu pensamento, externado em palestra que proferi no INDUSLOG, evento produzido pela FIESP há cerca de 15 dias: “O passado carrega um passivo pesado e completo para o presente. Mas qual é o legado que nós, governo, industriais, transportadores e consultores deixaremos para o futuro?”

Presidente Lula, Ministro Alfredo Nascimento, amigo Keiji Kanashiro, entre os mais importantes do cenário: Não está na hora de criar o “MINISTÉRIO DA LOGÍSTICA”? E fundir ações e responsabilidades dispersas em vários ministérios?

É para pensar, enquanto saboreamos, (com todo direito que nos é permitido) uma deliciosa caipirinha de cachaça, o brasileiríssimo coquetel que agrada todas as torcidas.

JGVantine

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